Coisas Doces

Nada melhor que um cartucho de coisas doces para adoçar a vida que, sendo adocicada, resvala por vezes para becos salgados, ácidos e até mesmo amargos.

sábado, setembro 15, 2007

Os Fantasmas de Goya

Ao contrário do que o título indica, a personagem do pintor Goya apenas nos transporta pelos acontecimentos dos finais do séc. XVIII, em Espanha. O trabalho do pintor surge como um complemento aos vários avanços da história. Entre a intransigência da Inquisição espanhola e o despotismo das guerras napoleónicas, Goya, pintor bem sucedido e integrado na sociedade, tenta ajudar a salvar a filha de um amigo, presa pela Inquisição.
Ines surge como a verdadeira heroína que enfrenta a tortura, o cárcere e a loucura, sem nunca abdicar do homem a quem se entregara, ainda que para ser salva da prisão, e da filha de ambos.
Excelente retrato histórico, o filme de Milos Forman mexe com as emoções do espectador. Impossível não sentir medo, dor, piedade e até sorrir. A última cena é poderosa para além de muito bonita: apela e reforça a força da amizade, do amor, da loucura, da morte e da constante renovação do mundo... aconteça o que acontecer!
A não perder. Em cena.

2 Comments:

  • At 3:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Poema dos olhos fechados

    Estendido sobre o leito,
    hirto, e de olhos fechados,
    exactamente como se tivesse morrido,
    fiquei à espera de uma coisa qualquer.

    Silêncio.

    Duas crianças riram, ali perto, num quintal,
    e um homem deu um grito estrepitoso
    para chamar alguém.
    Estavam vivos
    e não reparavam nisso.

    Depois calaram-se.

    E voltou o silêncio.

    Um rumor brando,
    vagamente sibilante
    como um gás que se escoa sem ruído,
    penetrou-me os ouvidos
    e foi-se ocupando do cérebro, manhosamente,
    como coisa sua,
    nível após nível, milímetro a milímetro,
    num alagamento insidioso
    que tudo ocupa e tudo inutiliza.

    Com os olhos cerrados
    senti o rumor desdobrar-se em vozes íntimas,
    ecos que o tempo decorrido dissipara,
    vozes antigas, murmúrios carinhosos,
    palavras sussurradas,
    chamamentos de amor,
    cicios como dedos que se passeiam nos lábios,
    segredos,
    balbucios,
    delíquios e gemidos.

    Tudo esperava por mim, e eu ali, de olhos cerrados,
    estendido na cama,
    hirto, como se tivesse morrido.

    Continuei à espera
    Agora eram acenos, mãos veladas
    que me chamavam,
    como se além de nós houvesse mais alguma coisa,
    como se na paisagem esvaziada da morte
    caber pudesse a memória de um sorriso,
    aquele sorriso branco, profundamente interior,
    que é suporte da vida
    e dela o único bálsamo.

    Permaneci esperando,
    hirto, e de olhos fechados.
    Esperei.

    Esperei.

    E como nada mais acontecesse
    levantei-me, e fui fazer o pequeno almoço.

    António GEDEÃO,
    Novos Poemas Póstumos,1990,
    Sá da Costa, pp 57-61.

     
  • At 3:42 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Queria deixar-te um sorriso não-anónimo para dias menos doces...

     

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