Coisas Doces

Nada melhor que um cartucho de coisas doces para adoçar a vida que, sendo adocicada, resvala por vezes para becos salgados, ácidos e até mesmo amargos.

terça-feira, novembro 13, 2007

Luzinhas...

Quando falamos de paisagens pensamos, em primeiro lugar, nas paisagens que podemos observar em virtude da luz natural. As paisagens nocturnas merecem a nossa atenção quando revelam algo de particular ou de espectacular — a beleza da mancha resultante da iluminação, um vulcão em actividade, uma trovoada, um período festivo com muita luz, como as luzinhas de Natal, um fogo-de-artifício ou as fogueiras dos SantosPopulares — ou seja, quando acontece algo que contraria a escuridão e cria um acontecimento com luz. Só muito raramente procuramos desfrutar a noite em busca da escuridão e, mesmo assim, o que queremos realmente são as condições ideais para podermos apreciar o luar ou o brilho das estrelas. A importância da luz no nosso imaginário é tal que raramente conseguimos beneficiar plenamente de outras paisagens que não sejam as visuais. Das paisagens dos sons e dos cheiros só muito raramente se fala e, ainda menos, se desfruta. No imaginário popular, a noite esteve sempre associada a todos os perigos — insegurança, criminalidade, desconforto... Até à vulgarização da iluminação, assim que o Sol desaparecia, as pessoas refugiavam-se em casa. Os espaços públicos só eram usufruídos após o pôr-do-sol, quando a luz artificial, como uma fogueira, ou a luz natural, como o luar, o permitiam. Em Portugal, a iluminação pública surge em 1780, em Lisboa, e utilizava o azeite como combustível; em 1848 foram introduzidas as primeiras luminárias a gás; em 1878 surgiram as primeiras experiências com a electricidade, que só passa a ser utilizada sistematicamente em 1929. [...] A iluminação começou por ter apenas funções de visibilidade e de segurança, assegurando uma melhor leitura do espaço à noite. Foi na Exposição Mundial de Paris, de 1900, que a luz surgiu pela primeira vez associada ao lazer, à criação de prazer e bem estar, à possibilidade de uma apropriação nocturna da cidade por todas as pessoas. A noite continuava a despertar medos, mas, devido a uma série de mudanças sociais, teve início uma nova etapa: a noite passa a estar associada também a aspectos positivos. É o momento do descanso, do lazer, da possibilidade de fruição do tempo fora do trabalho.
Teresa Alves, «Geo grafias da Luz», in Luzboa — A Arte da Luz em Lisboa, Lisboa, Extra jmuros[ associação cultural para a cidade, 2004.
 
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