Coisas Doces

Nada melhor que um cartucho de coisas doces para adoçar a vida que, sendo adocicada, resvala por vezes para becos salgados, ácidos e até mesmo amargos.

domingo, dezembro 28, 2008

O Mercado dos Amores

Era uma vez um mercado, localizado em sítio incerto, mas com uma enorme afluência de público. Nesse mercado vendiam-se produtos especiais que não se encontravam em nenhum outro estabelecimento comercial... vendia-se amor.
O edifício era igual ao de qualquer outro mercado: não muito alto, pintado de branco, formas arredondadas, portões e gradeamentos de protecção em tom vermelho vivo. No interior, o chão era de uma espécie de mosaico rude, cor de tijolo, estriado para que ninguém escorregasse. Afinal seria mau para o negócio que, em vez de comprar o amor, um cliente caísse e partisse uma perna.
Nos seus vários corredores havia bancas para todos os gostos. Uma das primeiras era a do amor paternal, vendia amor de pai e amor de mãe, claro está. Ao lado ficava a banca do amor filial, seguida da do amor fraternal. Essa era enorme porque o amor vinha em embalagens grandes. A dona até disponibilizava um serviço de entrega ao domicílio gratuito para quem não possuia veículo próprio.
Num canto meio escondido, ficava a banca do amor erótico. Decidira-se resguardá-la de olhares infantis, invejosos e curiosos, mas todos os que a procurassem conseguiriam lá chegar. E havia mais, havia a banca do amor eterno, sempre com muitos clientes, mas com pouca oferta. Era um produto raro e muito caro... A banca do amor temporário, a do amor virtual, a do amor à distância, a do amor platónico, a do amor infiel, a do amor doentio, a do amor agressivo e até, para quem mudasse de ideias, a banca do desamor.
Os clientes, fiéis ou esporádicos, ficavam sempre bem servidos, escolhiam, compravam o que realmente queriam e, em caso de reclamação (registe-se que nunca houvera nenhuma), lá estava o agente da ASAM (Autoridade para a Segurança Alimentar e Amorosa) que se encarregava de levantar o auto e encaminhar o processo.
O sucesso do mercado era tal que mais tarde, quando se inventaram os GPS, vinham todos programados de série para o encontrar, mas o satélite que coordenava essa orientação foi atingido por uma chuva de meteoritos e perdeu-se no vácuo. É por isso que, actualmente, ninguém sabe como encontrar o mercado do amor.
 
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