Coisas Doces

Nada melhor que um cartucho de coisas doces para adoçar a vida que, sendo adocicada, resvala por vezes para becos salgados, ácidos e até mesmo amargos.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Frase do Dia II

É que ter bom gosto para homens, acaba por ser um defeito!
(autoria: L., live from Ireland)

Frase do Dia I

O Alberto João demitiu-se!!! Tinha de ser no Carnaval!!!
(autoria: Belguinha)

domingo, fevereiro 11, 2007

Babel

Foi o meu regresso às salas de cinema. Já lá não ia há tanto tempo, que pensei que o mal não tivesse cura. Mas foi um excelente regresso...
Num estilo que faz lembrar "Colisão", este filme faz-nos entrar na vida de várias famílias, unidas por um acaso - uma arma - que acaba por provocar a tragédia, mas também origina processos de catarse pessoal e familiar. Uma verdadeira torre de Babel, onde nem as muitas línguas foram esquecidas e aparecem à mistura com diferentes vidas, diferentes percursos, diferentes atitudes e posicionamentos. Afinal é isto a vida... uma torre de Babel, onde por vezes se morre e, também por vezes, se salvam vidas.
Impossível não pensar no poder que uma arma tem, depois de se ver este filme. Também se fortifica a crença de que este mundo é uma autêntica casca de noz, onde tudo e todos se misturam. No fim, uma só certeza: o homem é pequeno face à grandiosidade do universo, mas basta um esforço ainda mais pequeno e o ser humano cresce dentro de si e aprende a vencer obstáculos e a ser feliz.

Notas importantes:
- o Pitt, com a idade, ficou apetecível (afinal os homens sempre são como o vinho do Porto).
- não sei bem porquê, mas acho que perdi a vontade de ir a Marrocos.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Carminho e Sandra

Carminho senta - se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora .Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de Espanha.

(Mais abaixo na cidade)
Sandra senta - se no banco côr - de - laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda - chuva aos pés gelados e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora.

O BMW e o autocarro 22 cruzam - se a subir a Avenida Infante Santo.

Carminho despe - se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma bata verde. Deita - se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente - se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme.

Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa , brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre - o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente – se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.


Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe –lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.


Sandra não acorda. E não acorda . E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha – se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre – se de dizer a alguém que eu existo. A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia.Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse –lhe uma médica, emocionada. Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Sim? Não? Abstenção...?

No anterior referendo votei não. Desta vez era adepta do sim, mas confesso que agora não sei! Não seria capaz de o fazer, mas será justo penalizar quem o faz? Não falo apenas da pena de prisão, falo também, e se calhar principalmente, da discriminação de que as mulheres que decidem abortar são vitimas, das condições humilhantes e degradantes a que ficam expostas, dos perigos que correm e nos quais envolvem a família. E de repente parece que sou pelo sim! Porém, o sorriso babado daquele bebé redondinho, hoje de manhã no comboio, faz-me amolecer o coração (onde até nem existe grande espírito maternal) e afinal já sou pelo não.
Conheço quem já tenha cometido o "crime" e compreendo as razões que a isso conduziram. Admito que me bateria contra qualquer espécie de castigo ou constrangimento causado a essas pessoas. No entanto, sabemos todos que há espíritos ignorantes que vão usar a despenalização (caso venha a ser aprovada) como método contraceptivo.
E também conheço quem tudo faça para ter um filho. Conheço o sofrimento gigante de quem já sofreu a perda de um filho. Conheço pais que amam, filhos que sofrem, pais que não o sabem ser e filhos que são os mais felizes do mundo. Conheço argumentos pelo sim, conheço argumentos pelo não... O que eu não conheço é a melhor decisão, porque nenhuma me completa e, contudo, a questão diz-me respeito, enquanto cidadã, enquanto mulher, como filha e como possível futura mãe.
Como não há um "nim" no boletim de voto...
 
Counter
Counter